1. |
O Morto do Nome Falso
03:37
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Chove no som da sineta...
E à frente o coveiro coxo
puxa a carreta
onde, hirto e descalço,
vestido de roxo,
vai o Morto do Nome Falso...
Atrás, saídos das tumbas
e dos buracos,
vão outros mortos mais vivos
com noite nos crânios
e passos cativos
na terra mole...
São os monstros das catacumbas
com olhos opacos
que escavam subterrâneos
que acabam no sol.
(Não são ladrões.
Não são assassinos.
São monges sem céu.)
Dobraram os sinos
Rangeram alçapões...
(Quem é que morreu?)
Então vieram todos às escondidas,
aos tombos, aos cachos como morcegos...
Saltaram os muros
E agora aí vão
num passo de cegos
encontraram na escuridão
outro sol futuro
Um, ainda moço,
as pernas feridas,
(talvez da grilheta
que ninguém vê)
atou ao pescoço
uma fita preta
não sei para quê...
Quem é? Quem é?
esse herói sem galões
que à hora da morte
quis pôr-se de pé
sem consolações
nem rasgões de fé.
Ora! Que importa o nome?
Viveu como um bicho
mordido de fome.
E agora
para maior realço
- tão morto e sozinho! -
vai O Morto do Nome Falso...
Lá vai na carreta
do coveiro coxo
a arrastar a perna...
Lá vai no caixão,
ao som da sineta,
para a Lama Eterna...
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2. |
Ajudante e Protector
03:27
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Ontem já cantaram para ele
o ajudante e protector
- Cânone glorioso..
Quando amanhã tu esticares o fuzil
cantarão apenas
- Que doçura de vida...
"Todos temos o nosso grão de loucura. Basta um pequeno cálculo para nos apercebermos de que tudo isto terá fim. É fatal que o corpo da avó encontre o pretexto de doença para se desagregar (...)"
Vai-se notar a comparação
está deserto este lugar
será necessário compensar...
Haverá porém lágrimas, cinzas, espólios
contas bancárias
para repartir...
"A avó interessa-se por tudo o que possamos dizer, pois faz parte de toda a nossa existência. Não se irrita nunca se lhe repetimos uma ninharia num tom que denuncia certo nervosismo. A meu ver, o que se passa no seu espírito é mais ou menos isto: decide não pedir que repitamos o que não entendeu mas um minuto mais tarde não deixa de nos interrogar . Então respondemos com enfado: "Não é nada de importante, não vale a pena mostrar-se tão curiosa." Como se o facto de falarmos apenas de mil pequenos nadas pudesse constituir para nós uma desculpa. No fundo, temos também, possivelmente , um pouco de razão, pois é natural o nervosismo quando se diz: "Vai chover" e alguém nos pede para repetirmos a frase (...)"
Ontem já cantaram para ele
o ajudante e protector
- Cânone glorioso..
Quando amanhã tu esticares o fuzil
cantarão apenas
- Que doçura de vida...
"Mas quando a conversa toma uma feição mais animada e aquecemos todos ao sustentar o nosso ponto de vista - por vezes mesmo nas questões mais importantes que poderiam interessar a avó - ela já não nos interrompe, pois a conversa é demasiado rápida para que possa ter a pretensão de entender tudo; a nossa conversa provoca-lhe o efeito de um zumbido de abelhas e durante os segundos em que interrompo o meu discurso descubro-a toda infeliz, como se estivesse já na tumba. Mas permanece grave, como é seu hábito, sem se lamentar. "
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3. |
Plástico e Fotocópia
02:23
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As cassetes que me gravou o Pedro eram bilhetes em plástico e fotocópia/ os cinzentos entre o preto e o branco/ imagens indefiníveis, letras indecifráveis/ à confiança um mistério de flores/ duendes de subúrbio vendedores de ganza/ em rádio-novelas de fugas em calçada e descendências em Segóvia eléctrico...
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4. |
Canção da Jorna
02:49
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O amor de guardar ódios
Agrada ao meu coração
É como um dia sem sol
A raiva na servidão
Há-de sentir o meu ódio
Quem o meu ódio mereça
Ó vida cega-me os olhos
Se não cumprir a promessa
E venha a morte depois
Fria como a luz dos astros
De que nos importa morrer
Se não morrermos de rastros
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